segunda-feira, 7 de novembro de 2011

VIDA QUE SEGUE, SE VC NÃO ACREDITA NISSO, TÁ INDO PRO LUGAR ERRADO

'Vou dar o melhor de mim', diz presa no primeiro dia de trabalho no TRT-MT

Cinco reeducandas foram contratadas pelo Tribunal Regional do Trabalho. Elas vão trabalhar na digitalização dos recursos dos processos.

As presas serão escoltadas todos os dias do presídio feminino até o TRT-MT. (Foto: Kelly Martins/G1)

As presas serão escoltadas todos os dias do presídio feminino até o TRT-MT. (Foto: Kelly Martins/G1). Cinco reeducandas do presídio feminino Ana Maria do Couto May, em Cuiabá, começaram a trabalhar na manhã desta segunda-feira (7) no Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso (TRT-MT). No primeiro dia de expediente, as detentas, que cumprem pena em regime fechado, vão atuar na digitalização de processos acumulados no órgão. “Vou dar o melhor de mim. Com essa nova oportunidade quero fazer o melhor possível”, declarou ao G1, Louriane Costa, de 27 anos.

Ela contou que está presa há dois anos e que a expectativa com o trabalho é grande. Segundo a reeducanda, o principal objetivo é ajudar o filho, que tem 7 anos de idade, e a mãe dela. “Tudo que faço na minha vida é pensando neles. Agora, vou poder ajudá-los melhor”, frisou. Ambos, de acordo com Louriane, moram no município de Nova Mutum, a 269 km de Cuiabá. A reeducanda e as outras quatro detentas foram contratadas pelo TRT, por meio de um convênio, e vão receber um salário de R$ 408. Todas vão desempenhar tarefas na área de apoio administrativo, com jornada das 7h30 às 14h30. Nesta segunda, as presas foram escoltadas da penitenciária até o Tribunal em um veículo do Sistema Prisional do estado. Diariamente elas serão transportadas por agentes penitenciários, conforme informou a direção da unidade.

Apreensivas, as cinco detentas foram recebidas por servidores logo na porta de entrada da instituição. “Ai que frio na barriga. Nem dormi esta noite”, declarou Joice Ferreira, de 24 anos, quando passava pelos corredores em direção à sala de trabalho. Em entrevista ao G1, Joice contou que quer aproveitar a chance para se capacitar visando o futuro, quando deixar a unidade prisional. A jovem está presa há quase dois anos e também disse que quer garantir o futuro do filho, de 8 anos. “Trabalhando vou poder ajudá-lo. E tenho a oportunidade de me capacitar”, observou.

Cinco detentas terão jornada de oito horas e vão receber R$ 480 reais. (Foto: Kelly Martins/G1)
Cinco detentas terão jornada de sete horas e vão receber R$ 408. (Foto: Kelly Martins/G1). Para o presidente do TRT-MT, Osmair Couto, o objetivo está em promover a ressocialização das reeducandas com a chance de desenvolver projetos profissionais, além de promover a capacitação. Por outro lado, avalia também que o desafio está em romper a “barreira” do preconceito. “Isso ainda é visível [preconceito]. Infelizmente temos que lutar com os pré-julgamentos que as pessoas fazem. Mas acredito que, com o tempo, a situação se reverte”, pontuou.
O presidente informou também que pretende ceder mais vagas para o sistema penitenciário, no entanto, não há confirmação de data. O setor apontado por Couto que requer mais colaboradores é de Arquivo, cuja função é o descarte de processos. “Atualmente temos três estagiários lá. Mas eles se formam e saem. Ninguém quer assumir esta função. Por isso, vejo que seria um setor apropriado para as vagas”, finalizou.

'Queremos quebrar tabus', diz presa contratada por Tribunal de MT

Contrato faz parte de um projeto de ressocialização no Tribunal do Trabalho.
Reeducandas tiveram autorização especial da justiça para trabalhar.

Kelly Martins Do G1 MT
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Presa em MT (Foto: Kelly Martins/G1)
 
Elaine vê a oportunidade de reinserção como forma de quebrar barreira. (Foto: Kelly Martins/G1). Há dois anos cumprindo pena em regime fechado, Elaine Cristina de Oliveira, de 28 anos, acredita ter encontrado uma oportunidade para reconstruir a vida interrompida pela prática criminal. Ela e outras quatro reeducandas do presídio feminino Ana Maria do Couto May, em Cuiabá, foram contratadas pelo Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso (TRT-MT) para atuar na digitalização dos processos e, com isso, quer quebrar as barreiras que diz existir com a sociedade.
 
“É uma oportunidade para quebrar o tabu que existe entre as reeducandas e a sociedade. Nós sabemos que erramos e já estamos pagando por isso”, afirmou a reeducanda. A possibilidade de reinserção social foi acompanhada pelas cinco reeducandas, na manhã desta quinta-feira (27), durante a assinatura do convênio que contou com a presença da Corregedora Nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, além de outras autoridades estaduais. Todas cumprem pena em regime fechado. A partir do dia 7 de novembro, as reeducandas vão digitalizar os milhares de processos empilhados nas varas do Tribunal, além de desempenhar tarefas na área de apoio administrativo, com jornada de até oito horas diárias. Diariamente, elas serão transportadas por agentes penitenciários até o Tribunal do Trabalho para desenvolverem as atividades. O salário é de R$ 408 e, além da remuneração, as detentas terão remissão de pena: a cada três dias trabalhados é reduzido um dia na pena.

presas ressocialização (Foto: Kelly Martins/G1)
 
Reeducandas que participam do projeto cumprem pena em regime fechado. (Foto: Kelly Martins/G1). “Com o dinheiro poderei recomeçar a minha vida. Tenho um filho de 7 anos e isso ajudará muito”, contou a reeducanda Lauriane Castro, de 27 anos. Em entrevista ao G1, Lauriane disse que está muito feliz com a oportunidade de um recomeço, já que está presa há dois. Apesar de não querer revelar o crime que a levou para a prisão, Lauriane relata que o período no regime fechado foi traumático para ela e para a família.
 
O diretor da penitenciária feminina de Cuiabá, Domingos Sávio Grosso, informou que o projeto de reinserção social é um grande avanço para o Sistema Prisional do estado. Ele explicou que as reeducandas tiveram uma autorização especial para a contratação por serem do regime fechado e foram escolhidas pelo bom comportamento. "Elas estão participando de atividades dentro do presídio e a ideia é fazer com que estejam envolvidas ainda mais em projetos. Além disso foram avaliadas pelo bom comportamento", frisou o diretor ao G1. Sávio  anunciou também que novas vagas ainda deverão ser abertas neste ano.
 
Para a ministra Eliana Calmon, o Judiciário Brasileiro tem dívidas a pagar à sociedade e, por isso, não pode servir apenas para resolver os processos no papel. "Temos que assumir a posição de ator e protagonista junto à população. O Judiciário está atrasado há dois séculos e temos muitas dívidas a pagar para com a sociedade que espera uma ação nossa, sempre. Temos pressa em pagar isso", pontuou a ministra.

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